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birutas

sonhei que tinha cílios enormes, gigantes e andava na augusta.

não sei se já era um filtro no olhar ou um desejo de.

a rua augusta:

é uma calçadarua aqui em lisboa.

no seu início ou no seu fim há um arco, onde geralmente se pára e registra ou documenta~se quiser...arco feito como símbolo depois do terremoto. deve haver milhares de fotos dele.

milhares

posso dizer que é uma rua turística modelada como algumas ruas espalhadas pelo mundo (nos escritos e falas me pego a trocá-la por rua XV)

lojas de roupas, e essa é de sapatos,essa é de roupas caríssimas, aqui temos uma ma-ris-ca-ri-a, com as lagostas tristes nas vitrines expostas para atrair alguém que tem a coragem (?) de comê-las, essa é de cerâmicas, bolinho de bacalhau (lugar tradicional novíssimo), sorveteria, restaurantes, vinhos, discoteca festival, olha só a vitrine da pastelaria cheinha de doces ...e pessoas e pessoas dispostas a consumir em todas elas.

há um tempo ali. e estou nesse tempo por algumas horas quase todos os dias. um pouco na ansiedade da surgência de coisas que venham e que não venham

e nesse tempo na investigação do corpo ali, no meio de descrições físicas do que é essa rua, do que tem, dos seus sons, da sua música, dos corpos que ali passam, do por quê passam, de como reverberam em mim, em nós, fica ainda a pergunta qual realmente o trabalho aqui na augusta? há alguma coisa que ainda não consegui refinar.

essas pessoas que estão passando agora compõem a cidade nesse agora

e saem e voltam, formam, desformam, deformam, por desejo, por graça, por nada. o quanto sentem que são|sou cidade

componho augusta lisboa

pequena parte do organismo

quando penso cidade penso num pedaço de mim junto_____penso mesmo?

o que é conviver com um lugar?o que cabe nisso, no conviver juntos

vem vento de vários lados aqui. os cabelos e as roupas mais soltas são as birutas a indicar a direção do vento. descobri agora que biruta é o nome disso. e ri sozinha na descoberta de que as birutas é que indicam alguma coisa.

nada anda

como sinto e compartilho o que mais me afeta nesse estar. como escolho o que compartilho aqui agora, na escrita na fala, no meu corpo.

sinto que é um lugar que lança o ato de condicionar, e é construído planejado para cada vez mais condicionar. e isso fica forte, a questão política econômica por mais que consiga ver outras coisas no meio dela. ou investigar os sons da augusta, dançar ali, tocar, jogar sueca, já trazem isso junto. o som tem características específicas dessa politica turística e cantar e tocar aqui se enquadram de uma forma específica por ser uma rua turística.

e vai e volta-se

e fica novamente um tempo e pensa no brotamento de outras possibilidades de vida

o que se começa que ninguém viu como, que ninguém sabe que começou que ninguém sabe nem o que é a não ser o que já está...ficamos em um espaço cantando e tocando e foi isso. os corpos que se disponibilizam para descobrir o corporar a augusta que estão juntos que abrem mesmo achando que não daria para abrir. abrir uma vontade necessidade conversa.

então o sol mostrou o lugar pra gente ficar. se aquecer. agora a ação de “fazer um aquecimento” ficou bem mais nítida. esse espaço de abertura, como uma possível justificativa de se estar naquele lugar, como se precisasse...porque era o último feixo de sol ali na fresta entre dois prédios entre a augusta e a rua de são julião.

o sol tem o seu tempo

e a voz com muito vento já é outra

e tudo isso trago assim, meio torto mesmo, aprendendo o quê e como compartilhar

agora esse vai assinado……….mariana.


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